POUCOS COMPLEXOS, MUITO DESNORTE
1. No primeiro escrito que deu o pontapé de saída nesta
coluna de intervenção cívica anunciou -se a vontade de contribuir para o
conhecimento mais geral da população de pequenas / grandes coisas que às vezes
( muitas vezes ) ficam apenas entre uns ( muito ) poucos .
Disse-se há uma semana que a (ainda) Presidente da Câmara
quando em 1998 foi eleita vereadora fez questão de dar logo a sua opinião onde
expressava fortes dúvidas sobre o interesse que poderia ter essa «coisa» de um
projecto para avançar com umas Termas em Nisa. Achava , então,
que não valia a pena tal investimento já que o futuro do concelho e da região
pouco ganhariam com tal iniciativa.
2. No verão passado, quando anunciava pela enésima vez que o
«complexo» termal iria finalmente abrir ao público, o jornal «Avante» atribuía
-lhe a perspectiva de que, com este projecto, estaríamos perante o investimento
mais estruturante que se realizou no distrito de Portalegre desde o 25 de Abril
de 1974. Nisa só por si. Não era preciso considerá-lo em conjunto com Cabeço de
Vide, um novo balneário termal edificado recentemente.
O maior em 35 anos. Não só no concelho de Nisa !!! No
distrito inteirinho!!! O mais desenvolvimentista! O mais sustentável!
O mais gerador de emprego qualificado...
3. É perfeitamente razoável que a opinião de alguém possa
evoluir e 10 anos depois considerar interessante o que antes lhe parecia não
servir para nada. Embora seja bom lembrar que estamos a reportar -nos a alguém
que quando desdenhava dessa «ninharia» de querer fazer umas termas em Nisa já
não tinha a idade de 18 anos nem sequer 20 ou 25 . . .
4. Não tornemos um «complexo» de análise o que é, afinal, bem
simples. Não há entre a opinião pessimista de 1998 e o megalómano devaneio
ultra-optimista de 2008 qualquer contradição nas «convicções» expressas.
Sejamos claros. Pela simples e nada «complexa» razão de que não estamos perante
qualquer convicção séria. O que se diz, esporadicamente, são lugares comuns,
despidos de conteúdo ligado a qualquer estudo sério de uma problemática que não
se domina, e que se instrumentaliza na conversada de circunstância em termos de
simples e descarado truque político.
5. Só assim é possível este último ano de espectáculo com
anúncios sistematicamente falhados de datas de abertura das termas, de
aquisição de equipamentos que não se revelam os mais adequados, de processos
administrativos que seguem para os tribunais por claro compadrio e mesmo
suspeita forte de corrupção.
O primeiro balanço de funcionamento das termas é algo de
«pioneiro» por estarmos perante circunstâncias nunca antes vistas no termalismo
onde quer que seja. Qual o balneário termal português que começou com «visitas
guiadas», mais tarde «tratamentos experimentais», doentes que chegam com dor
nas costas e sinusite mas só podem tratar uma das coisas de cada vez e voltar
novamente mais tarde, com sucessivas deslocações e despesas em absoluto
desrespeito por quem sofre e precisa de usar os serviços.
O pior é quando se acrescenta à insensibilidade do topo os
«critérios» de recrutamento de toda a entourage de «administração» e «técnica»,
onde a motivação dos responsáveis não é mais que o cheiro mercenário de euros
às carradas que representam uma ofensa àqueles que, por ganhos miseráveis e sem
garantias laborais decentes, ainda são, quando prestam os tratamentos, a
confiança para os utentes e os fazem voltar de um ano para outro.
7. Depois das «visitas» e «tratamentos experimentais» chegou
finalmente a «inauguração oficial» de um coisa que (dizem) já funciona há
muito. Onde chegámos!!! Autêntico ultraje ao bom nome do concelho...
Alberto João não faz melhor quando, num novo abastecimento
de água na Madeira, primeiro celebra a construção do fontanário ainda sem
torneira, depois faz a festa da água proveniente de um tanque de lusalite,
para, mais tarde, finalmente ter a «inauguração oficial» com o líquido a chegar
às casas dos moradores.
Esta atitude política que nos envergonha não pode continuar!
Não apenas por sanidade «termal”, repondo o projecto no seu sentido originário,
mas, essencialmente, por decência política democrática.
Dinis de Sá - 3/8/2009