sábado, 1 de fevereiro de 2014

OPINIÃO: Atribulações de uma Porta que já foi da Vila

Um sábado quase meio-dia, junto ao ex-libris de Nisa, a Porta da Vila, a Torre do Relógio, Igreja Matriz e o Forno Comunitário. A Taverna da Vila já tem a porta aberta e vai começar a servir almoços. Quando em minha direcção caminha um desconhecido, um dos turistas que ainda se perdem no labirinto das ruas estreitas da vila de Nisa, com um largo chapéu e num atabalhoado português me coloca a questão:
- Comércio?
Fico sem saber que dizer, raciocino e nada sai. Um mau estar invade-me. O senhor ao ver-me hesitante, continua:
- Ourivesaria ali, aponta para sul. Artesanato ali, aponta a poente. Pingo Doce, Mini preço, somente?
Temos como cenário dois contentores de lixo junto às muralhas de acesso ao Castelo de Nisa, ex-libris de Nisa e Monumento Nacional.
Esta zona, na minha opinião, a mais nobre, deveria merecer melhor atenção. Ainda são alguns forasteiros que ao fim de semana calcorreiam e deambulam pelo Centro Histórico de máquina fotográfica na mão.
Começar pelo Largo Dr. Granja, retirar a estátua do lugar onde está, colocá-la no centro e permitir fluidez no trânsito. Dar á zona a importância que já teve. O largo do comércio local. Da venda do pão confeccionado nas nossas padarias, do nosso queijo, dos nossos produtos.
Poderia ter esplanadas, toldos, cafés, mercearias e também a estátua do Dr. Granja melhor colocada. Mas não, obras novas que mais tarde vemos que não resultam e mesmo assim continuam anos a fio a funcionar mal. Veja-se o caso do transtorno do estacionamento para transportes colectivos e caravanas na Praça da República! Muitas vezes só percebemos mais tarde, já a funcionar, depois das obras feitas que erramos, há que o reconhecer. Sigamos o Plano de Salvaguarda do Centro Histórico e as suas linhas orientadoras, mais atentamente. Foi feito para nos guiar e servir. Reabilitar, revitalizar o nosso Centro Histórico, o nosso património, a nossa história.
Lembremos que o Largo ainda recentemente tinha estas características, recuemos duas ou três dezenas de anos... Lembremos, além de outras, das lojas bem localizadas e movimentadas bem no Centro da Vila, das senhoras Maria José do Nabão e Tá Carita. As mercearias tinham padarias incorporadas e eram os melhores depósitos de pão do concelho de Nisa, aos sábados, no verão, era vendida uma enorme quantidade de pão e bolos tradicionais não só a residentes como a turistas. Podia terminar agora com este fenómeno de esvaziamento dos centros históricos, em tantas das nossas cidades e vilas, para as periferias, do aparecimento das grandes superfícies comerciais e da matança do comércio local.
Com o facilidade com que bancos e empreiteiros oferecem casas e empréstimos, dilatando prazos até ao fim da vida, e mesmo para alem dela. Com contratos de juros dissimulados em letra miudinha.
Renegaram-se origens, associou-se a madeira e a pedra a uma vida de miséria. Tenta-se esquecer um passado de ditadura e opressão. Quando estas casas reabilitadas e adaptadas são bem melhores que as que o empreiteiro nos quer vender.
José Moura - 30 Setembro de 2010