terça-feira, 7 de janeiro de 2014

OPINIÃO: A Corrupção no Poder Local

“Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade?”
In “Sermão de Santo António aos Peixes”, de Pe. António Vieira
Até ao final de 2009 cerca de 500 organismos públicos, entre os quais as câmaras Municipais, foram obrigados a apresentar ao Tribunal de Contas, os seus Planos de combate à corrupção (Plano de Gestão de Riscos de Corrupção e Infracções Conexas), parece que “quase” todos lá apresentaram o dito plano na data prevista. Mas o que irá trazer de novo este documento na gestão corrente das autarquias? Mais transparência? Mais informação para os munícipes? Acabam as famosas “cunhas”? Claro que não !!!! Quem está no poder vai continuar a favorecer os seu “amigos” (nas empreitadas, ou nos empregos) sem margem para dúvidas, porque está entranhada nalguns caciques locais esta maneira de controlar o povo.
O exemplo que passo a descrever podia passar-se em qualquer autarquia, imaginamos que o Sr. António, Presidente da Câmara, fora indiciado pelo crime de enriquecimento ilícito, que os rendimentos que aufere não são compatíveis com a vivenda, o Jaguar e o iate que possui, a policia investiga este senhor e chega á brilhante conclusão que a sua fortuna não é herança nem tão pouco prémio do Euromilhões, portanto os bens que possui e que faz uso diário deles, não estão em seu nome, mas no de uma empresa offshore – com sede num paraíso fiscal, e por conseguinte o processo é arquivado na fase de instrução. Como este caso existem muitos e são reais infelizmente, as leis existente favorecem estas práticas contínuas na sociedade portuguesa, por isso não nos admiramos de constantemente sermos referidos nos organismos internacionais como um país de muita corrupção.
Grande parte dos crimes de corrupção nas autarquias locais estão associados à construção civil e obras públicas ou também chamados “Crimes Urbanísticos”, em que se violam constantemente os PDM – Plano Director Municipal, sem consultar as Assembleias Municipais ou mesmo junto das populações em sede de referendo local tais alterações. Nunca algum responsável foi condenado por alterar e violar o PDM porquê? Mais uma vez a nossa justiça protege o corrupto e o corrompido.
No documento que acompanha o plano da Câmara de Nisa, a sua Presidente faz referência de forma clara que “a informação e esclarecimento dos cidadãos é a melhor medida de combate á corrupção”, também eu partilho dessa opinião, mas nestes últimos anos não é isso que tem acontecido no concelho de Nisa, pois não? Então comecemos por aí mesmo, dar mais e melhor informação aos munícipes e de preferência com transparência.

José Leandro Lopes Semedo - 20/1/2010