sexta-feira, 14 de março de 2014

PONTÁ BITÉFES - ADN: Baralhar e dar de novo

A denominada ADN – Associação de Desenvolvimento de Nisa – assinalou no dia 23 de Maio, cinco anos de existência.
Constituída tendo como objectivo principal, substituir a ADIP, entidade proprietária e gestora da Etaproni – Escola Tecnológica, Artística e Profissional de Nisa, a sua ainda curta existência tem dado azo a constantes equívocos e manifestações de desconfiança, quer quanto à natureza dos seus fins específicos, quer, sobretudo, quanto ao relacionamento que mantém com a Câmara Municipal de Nisa, entidade que preside à direcção da ADN e que por força dos estatutos detém uma posição leonina no seio da associação, de onde sobressai o direito de veto.
Ora, essa posição privilegiada obrigaria, como é de lei, por um lado, a que a representante da edilidade e presidente da direcção da ADN levasse a reunião de Câmara para análise e resolução, todos os assuntos de importância relacionados com a ADN e, por outro, fosse a fiel depositária e transmissora das deliberações do executivo relativas àquela associação.
Sabemos que não tem sido assim e logo após a tomada de posse do actual executivo municipal, a recondução do director executivo da ADN, após ter posto o lugar à disposição, foi sancionada com o voto favorável da representante do município sem que a vereação tenha tomado conhecimento e deliberado sobre o assunto. Dito de outra forma, a presidente da Câmara não representou a edilidade, como lhe era, rigorosamente, exigido, mas a si própria.
A discussão sobre a posição da Câmara no contexto dos estatutos da ADN levou a que os mesmos fossem revistos e aprovados, em Março de 2010, desta vez sem a presença da presidente da Câmara e uma vez mais, sem o conhecimento, análise e deliberação do executivo camarário.
Face ao exposto, é, no mínimo, estranho, que o boletim camarário editado pela associação, venha perguntar, em artigo do seu director executivo, “porque será que querem destruir a ADN?”
O título do artigo, consubstanciado na pergunta, dá as respostas, onde não faltam as insinuações sobre o perfil e a falta de legitimidade dos eleitos do PS e do PSD na Câmara de Nisa, apostados, segundo o articulista, em exercer “ uma influência absolutamente negativa e a semear ódios e vinganças”, mantendo “atitudes de terra queimada” que sirva os “interesses pessoais imediatos e políticos de médio prazo”, não especificando quais são uns e outros.
O que salta à vista desarmada é que os “interesses pessoais e imediatos” de quem assina o texto são postos em causa, não por que alguém queira, de facto, “destruir a ADN”, mas tão só porque o concelho de Nisa será muito melhor com uma ADN forte, clara, transparente e, sobretudo, independente, onde as relações institucionais não sejam nebulosas e se saiba, exactamente, onde começa a Associação de Desenvolvimento e acaba a promiscuidade com a autarquia e outros apêndices.
E cabe dizer que não são só os eleitos portadores de “uma imprecisa e discutível legitimidade política” que pensam assim, pois a Assembleia Municipal em sessão realizada no dia 28 de Dezembro de 2009, aprovou, por maioria, com 14 votos a favor, 6 votos contra e 2 abstenções, a constituição de uma comissão destinada ao estudo e análise da problemática relacionada com a transição da ETAPRONI-Escola Tecnológica, Artística e Profissional de Nisa, para a ADN-Associação de Desenvolvimento de Nisa, comissão que foi formada por um eleito de cada força política (PS, CDU e PSD) e que até ao momento ainda não reuniu, não obstante se propor a apresentar resultados até à sessão de 30 de Abril de 2010.
Em causa e de acordo com o que foi afirmado nessa reunião da AM estarão as dúvidas quanto ao processo de transição da Etaproni para a ADN e também o afastamento de Manuel José Belo das funções de director que exercia na Etaproni.
Há, portanto, problemas a carecerem de solução e dúvidas a precisarem ser resolvidas. Uma destas é a que se refere ao passivo da Etaproni (300 mil euros) e que são a “moeda corrente” sempre que se fala na passagem da Escola para a ADN.
A Câmara terá assumido o passivo e aprovado a transferência de verbas para a ADN visando a liquidação gradual do mesmo. No entanto e basta ver o teor das últimas reuniões da autarquia, a aplicação dessas verbas não terão tido o destino para que foram aprovadas e os avalistas (fiadores) da Etaproni têm sido confrontados com a intimação por parte da entidade bancária para que procedam ao pagamento das importâncias em dívida.
São estas e não outras, as principais questões que se levantam sobre a ADN.
E não se pode exterminá-lo?
A Etaproni -Escola Tecnológica, Artística e Profissional de Nisa, integrada na rede de escolas profissionais, foi criada ao abrigo do D. L. nº 26/89 de 21 de Janeiro, estando prestes a completar 20 anos de existência.
Os primeiros anos de vida desta escola profissional em Nisa deixaram muito a desejar. Indefinições quanto ao projecto e oferta educativas, a falta de uma orientação clara e rigorosa, instalações pouco adequadas, traduziram-se no definhar progressivo de um projecto que se apresentara como aliciante e inovador.
A ameaça de encerramento chegou a pairar sobre a Escola, até ao momento em que a direcção da mesma passou a ter na sua liderança Manuel José Videira Belo.
Contando com uma equipa arrojada, dinâmica e empreendedora, a situação da escola, aos poucos, foi-se invertendo, num sentido mais positivo, ao ponto de ganhar projecção nacional e integrar a direcção da ANESPO (Associação Nacional das Escolas Profissionais). Com uma população escolar vinda, sobretudo, do exterior do concelho, à Etaproni faltavam condições básicas, tais como refeitório e alojamentos para que pudesse atrair novos alunos e alargar a oferta formativa.
Este problema arrastou-se durante vários anos, com promessas por parte da autarquia de resolver os problemas mencionados, até que, num acto de desespero, a ADIP terá ameaçado transferir a Etaproni para Portalegre.
Foi este cenário, improvável de materializar, que levou a um braço de ferro com a Câmara e que esteve na origem da constituição da ADN.
A Etaproni passou a integrar esta associação, Manuel Belo demitido das suas funções, “apunhalado” e “proscrito” por alguns daqueles a quem dera a mão e apoiara.
O trabalho desenvolvido em prol da recuperação e projecção da imagem da Etaproni que tão bons frutos deu, foi, rapidamente, postergado para o sótão das inutilidades. O que vem a lume, em todas as reuniões é o “passivo que alguém deixou”, como se passivos e passividade não fossem o pão nosso de cada dia das organizações subsídio-dependentes da senhora Câmara, algumas das quais estão agora na “praça pública”.
O resto da história já todos conhecem. Convém lembrar que este desfecho aconteceu, sem que tivesse sido necessário “semear ódios nem vinganças”, sem haver “terra queimada”, tudo foi feito a pensar no “bem da Nação” e no interesse da “corporação” que domina o concelho de Nisa.

Amén!
Mário Mendes - 10/6/2010