A PEN(HA) DO TEJO
Albergaria Penha do Tejo, com vista panorâmica para a Barragem do
Fratel, foi inaugurada, numa primeira fase, em 1997, como forma de dinamizar
uma das gargantas do Rio Tejo. Apesar de, em tempos já ter tido uma
"grande adesão" e de ter sido um complexo turístico, actualmente
encontra-se perdida no tempo e é caracterizada por um ambiente degradado e
ignorado pelos olhares dos que lá passam.
Onde o Alentejo dá lugar à Beira Baixa, centenas de viaturas percorrem
os quilómetros do IP2 à procura de um destino. Do outro lado da via, as águas
da Barragem do Fratel, uma das gargantas do Rio Tejo, assumem uma calmaria e
serenidade que confrontam o movimento agitado da estrada. As colinas
verdejantes e as aves que voam no ar lá ao longe pintam o quadro da paisagem. O
sol e o céu azul chamam por descanso e sossego.
Situada entre o IP2 e a Barragem do Fratel está contemplada a Albergaria
Penha do Tejo. Uma infra-estrutura que partiu da iniciativa da Comissão
Coordenadora Regional (CCR), que foi criada, numa primeira fase em 1997, pela
Câmara Municipal de Nisa, com José Manuel Basso no Executivo e inaugurada por
Victor Cabrita Neto, secretário de Estado do Turismo, no XIII governo
constitucional, em
que António Guterres assumia o cargo de primeiro-ministro.
Naquele ano, o empreendimento teve um financiamento de cerca de 250 mil
contos e foi apoiado pelo Segundo Quadro Comunitário de Apoio (FEDER), através
da Acção Integrada do Norte Alentejano (AINA). 10 era o número total de
funcionários que possuía.
Em entrevista ao DP, José Manuel Basso, antigo presidente da Câmara
Municipal de Nisa, explicou que “inicialmente, o projecto, que se considerava
interessante, foi aprovado para a dinamização da Barragem do Fratel”,
acrescentando que este era “um negócio concorrencial”.
De acordo com o antigo presidente da Câmara Municipal de Nisa, depois da
primeira infra-estrutura estar inaugurada, avançou-se imediatamente com uma
segunda fase, terminada em 2001 e apetrechada com a área de alojamento e uma
piscina, para dar resposta a “muitas procuras”. Contudo, a segunda fase da obra
nunca entrou em
funcionamento. O total do empreendimento contava com cerca de
50 quartos.
Ainda na segunda fase do projecto estava prevista a implementação de
equipamentos relacionados com actividades desportivas e náuticas, elo de
ligação entre a Albergaria e a Barragem da Penha do Tejo.
"O programa de trabalhos foi apresentado à União Europeia e se o
empreendimento tivesse sido continuado nesta fase já estariam implementados os
desportos náuticos e o rio já estaria completamente dinamizado", afirmou o
médico.
A beleza circundante choca com o cenário de degradação da Albergaria
Penha do Tejo. Uma infra-estrutura deixada ao abandono.
Degradação da estalagem
O ambiente de sossego e de conforto da hospedaria deu lugar à degradação
e a um cenário deplorável e sombrio.
Cá dentro, as suites, distribuídas em fila indiana, sem portas, deixaram
de ter a sua privacidade, só restando, em cada uma delas, um armário, uma
banheira e um lavatório. No corredor onde se encontram as suites, o chão é
ornamentado por vidros estilhaçados. Das paredes brancas interiores do
edifício, saem fios de electricidade danificados. O Hall de entrada que dá
acesso ao mini bar é caracterizado por lixeira e por actos de vandalismo. Junto
ao restaurante panorâmico e ao bar, transformado em retalhos, restam pinturas
de paisagens que guardam lembranças e recordações. A sala de reuniões e de
festas resumiu-se ao nada.
Lá fora a serenidade da Barragem do Fratel contrasta com o abandono e a
renúncia de piscina, rodeada por mato que teima em trepar cada vez mais os céus
alentejanos, esquecendo o relvado fresco de outrora. Ainda lá fora, um parque
de diversões, colocado ao abandono, guarda momentos de divertimento que, noutro
tempo, faziam as delícias dos mais novos.
O campo gimnodesportivo, destinado a actividades ao ar livre, ainda se
encontra intacto à espera que façam uso das funções para que foi construído.
O vandalismo a que a estalagem começou a estar habituada destruiu uma
das realidades que poderia vir a ser um marco para o desenvolvimento turístico
da região.
"Fiquei preocupado e horrorizado como cidadão." Foi desta
forma que José Manuel Basso se sentiu quando confrontado com o estado de
abandono e de degradação da Albergaria. Segundo disse, este era "um
projecto da Região de Turismo, do município e das gentes do Alentejo e da
Beira", lamentando que "quando um processo é parado obviamente que deixa
de ter sentido".
Aquando se encontrava ainda no Executivo, José Manuel Basso e a Câmara
de Nisa abriram um concurso público para a concessão da exploração do projecto.
"Enquanto fui presidente da autarquia, a porta da Albergaria abria todos
os dias e eu próprio a frequentava com alguma assiduidade, acompanhando as
propostas que haviam para o futuro daquele empreendimento".
Para o antigo presidente, a actual Câmara "tratou o empreendimento
como um enteado enjeitado. Quem está no cargo deve ter a responsabilidade de
zelar pelo seu património". José Manuel Basso referiu ainda que "há
uma concepção que foi desprezada por aquilo que foi abandonado que, sob o ponto
de vista político e civil, é condenável".
Esperança
Ao que o DP conseguiu apurar, um grupo de pessoas defensoras da
Albergaria está a ultimar uma acção judicial contra a Câmara que se encontra
actualmente no Executivo de Nisa, por delação de património.
O DP tentou contactar a presidente da Câmara Municipal de Nisa, Maria
Gabriela Tsukamoto, mas até ao momento não foi possível.
José Manuel Basso tem esperança no renascer de um empreendimento que foi
morrendo aos poucos. "Sinto-me triste. Precisa-se de um investimento
público e de vontade". Contudo, o antigo presidente da autarquia de Nisa
tem esperança "que surjam mecanismos por parte dos cidadãos, pois nessa
via de intervenção será uma questão de tempo para que hajam formas de gestão
para que a infra-estrutura volte a funcionar eficazmente", concluiu.
A Albergaria Penha do Tejo é actualmente local de passeio para animais e
caracterizada por um ambiente esquecido, perdido no tempo e ignorado pelos
olhares dos que lá passam, à espera que alguém lhe dê um novo rumo.
Ana Pires "O Distrito de Portalegre", 06/08/2009